quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


Todos sentem necessidade de amar, e esta necessidade geralmente é satisfeita quando encontramos o objeto de nosso amor e com ele mantemos uma relação freqüente e feliz. Pois bem. Enquanto vamos juntinhos à feira escolher frutas e verduras, enquanto mandamos consertar a infiltração do banheiro e enquanto vemos televisão sentados lado a lado no sofá, o que fazemos com nossa necessidade de desejar?

Lendo Alain de Botton, um escritor inglês que já foi mencionado nesta coluna, deparei-me com essa questão: amor e desejo podem ser conciliáveis no início de uma relação, mas despedem-se ao longo do convívio. Só por um milagre você vai ouvir seu coração batendo acelerado ao ver seu marido chegando do trabalho, depois de vê-lo fazendo a mesma coisa há cinco, dez, quinze anos. Ao ouvir a voz dela no telefone, você também não sentirá nenhum friozinho na barriga, ainda mais se o que ela tem para dizer é “não chegue tarde hoje que vamos jantar na mamãe”. Você ama o seu namorado, você ama a sua mulher. Mais que isso: você os tem. Mas a gente só deseja aquilo que não tem.
O problema da infidelidade passa por aqui. Muitos acreditam que a pessoa que foi infiel não ama mais seu parceiro: não é verdade. Ama e tem atração física, inclusive, mas não consegue mais desejá-lo, porque já o tem. Fica então aquele vácuo, aquela lacuna, aquela maldita vontade de novamente desejar alguém e ser desejado, o que só é possível entre pessoas que ainda não se conquistaram. Não é preciso arranjar um amante para resolver o problema. Há recursos outros: flertes virtuais, fantasias eróticas, paqueras inconseqüentes. Tem muita gente aí fora a fim de entrar nesse jogo sem se envolver, sem colocar em risco o amor conquistado, porque sabe que a troca não compensa. Amor é jóia rara, o resto é diversão. Mas uma diversão que precisa ter seu espaço, até para salvar o amor do cansaço.
Necessidade de amar x necessidade de desejar. Os conservadores temem reconhecer as diferenças entre uma e outra. Os galinhas agarram-se a essa justificativa. E os moderados tratam de administrar essa arapuca.

Martha Medeiros

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quanto tempo dura a felicidade de um pobre? Há quem diga que dura pouco.



A reportagem foi exibida no Fantástico em abril de 2007. “O que é felicidade?”, era o tema. E aparecia aquela mulher negra, tão magra como quem acaba de sobreviver a uma guerra, como quem sobrevive a guerra da vida. Uma típica nordestina, a cara do Brasil. A cena me tocou. Aquela pobre mulher gritava, chorava, ria, pulava... não nesta ordem, porque ela fazia tudo ao mesmo tempo. “Eu ‘to feliz! Eu ‘to muito feliz!”. Era um desespero de felicidade tão grande, tão intenso, que eu nunca vi na vida. O motivo? O filho da vendedora ambulante passou em um dos vestibulares mais concorridos do país. Passou em primeiro lugar. Mas acho que se passasse em último, a ambulante não se importaria. Tamanha a simplicidade daquela mulher que dizia que o filho, que passou em biomedicina, seria médico cardiologista.


Novamente o rapaz virou notícia: foi morto a tiros dentro da própria casa, segundo testemunhas, os assassinos procuravam vizinhos do rapaz, mas como ele não soube informar onde estavam, mataram o estudante.


Ironicamente a reportagem de 2007 iniciava com a seguinte pergunta:


Qual a maior felicidade que você já viveu?


Eu ia dizer que os papéis se inverteram, que a pergunta agora seria qual a maior tristeza que você já viveu? Mas isto é desnecessário diante da frase dita pelo estudante à época:


E é isso que eu acho que é a felicidade: é o objetivo alcançado a serviço da humanidade, a serviço do bem.”


Talvez o estudante negro e pobre pudesse ter alcançado mais objetivos neste mundo. Talvez pudesse ter feito algo em favor daqueles que interromperam sua trajetória de sucesso.


Mas quer saber? Viver para proporcionar às pessoas que amamos a maior felicidade que elas já viveram na vida, já deve valer muito a pena.


Viver a serviço do bem. A serviço da humanidade. Sabe quanto tempo dura? O tempo que o efeitos dos seus atos se refletirem no mundo. E isso é muito tempo.



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